Divindade, guerreiro, negro e ícone da resistência quilombola no Recife. Africano assassinado há quase 200 anos, Malunguinho continua sendo cultuado nos terreiros de Jurema Sagrada do Nordeste, mas ainda é desconhecido do povo e ignorado pela branca historiografia oficial do Brasil. O curta-metragem homônimo, do documentarista Felipe Peres Calheiros, se inspira na confluência do que há de religioso e histórico nesse personagem-entidade. Assim, tenta sugerir, por meio de elementos sensoriais, de performance poética e da narração de textos históricos, a sensação de uma luta afro-indígena que perdura até hoje. O filme foi selecionado e estreia no Festival do Rio, que acontece entre os dias 26 de setembro e 10 de outubro.
Selecionado como produto para televisão em edital do Funcultura de 2010, Malunguinho foi um média, lançado em 2012 no Cinema São Luiz e posteriormente exibido na TV Universitária, antes de ser curta. O documentário de 48 minutos, com abordagem mais clássica e televisiva, apresenta a investigação de documentos históricos em entrevista a pesquisadores e praticantes da Jurema. Totalmente diferente, com proposta mais experimental, o curta de 15 minutos ganhou – além de novas imagens, roteiro e montagem – também narração e performance de Miró, poeta marginal pernambucano cuja produção textual se relaciona, de forma muito pessoal, com experiências cotidianas de racismo e preconceito. “A força da presença dele em Malunguinho vem da verdade crua de sua poesia e vida: há muito mais realidade do que interpretação no seu texto e na sua expressão no filme”, afirma o diretor.
“Malunguinho” é uma produção do Coletivo Asterisco apoiada pelo grupo do Quilombo Cultural Malunguinho e dirigida pelo curtametragista Felipe Peres Calheiros (Até Onde a Vista Alcança, 2008, e Acercadacana, 2010), cuja filmografia tem estreitado relação com a militância em prol dos direitos humanos. “As feridas da escravidão e da violência branca ainda não estancaram em nosso País. Basta observar o mundo e analisar os indicadores sociais para noticiar a permanência da exclusão dos negros e índios”, diz.
HISTÓRIA - Malunguinho liderou o quilombo do Catucá, nos arredores do Recife, no início do século 19. O enfrentamento de tropas e os diversos saques promovidos pelo seu grupo ficaram registrados na correspondência entre as autoridades da época, em documentos históricos guardados no Arquivo Público de Pernambuco e ainda não totalmente revelados. Após seu assassinato em 1835, o líder quilombola passou a ser cultuado pelos praticantes da Jurema Sagrada, segundo os historiadores do projeto, os quais defendem a inclusão de Malunguinho no panteão dos heróis da pátria, ao lado de Zumbi dos Palmares.
Ficha Técnica
Direção: Felipe Peres Calheiros
Produção executiva: Diego Medeiros
Roteiro: Felipe Peres Calheiros e Paulo Sano
Produção: Natali Assunção e Andrenalina
Fotografia: Luís Henrique Leal
Assistência de câmera: Rafael Cabral
Direção de arte: Sergio Santos
Som direto e edição de áudio: Rafael Travassos e Nicolau Domingues
Montagem e finalização: Paulo Sano
Correção de cor e finalização em DCP: Pablo Nóbrega
Projeto Gráfico: Gilmar Rodrigues
Pesquisa: Alexandre L'Omi L'Odò e João Monteiro
Preparação de elenco: Edinaldo Ribeiro
Figurino: Francis de Souza
Motorista: Marcão
Elenco: Miró da Muribeca, Antônio Carlos dos Santos, Jamila Marques, Luciano Santana, Patrícia Nascimento (Diva), Paulo Queiroz, Verônica Santos, Yury Matias
Narração: Miró da Muribeca
Texto: Felipe Peres Calheiros e Miró da Muribeca
Documentos históricos: Arquivo Público de Pernambuco Jorão Emerenciano
03 setembro 2013
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